AVISO: Esta história contém detalhes de violência em relacionamentos íntimos e pode afetar quem já passou por isso ou conhece alguém que passou.
Em um caso perturbador de violação de privacidade digital em Halifax, Nova Escócia, Canadá, uma busca rotineira por receitas culinárias levou à descoberta de conteúdo íntimo publicado online sem consentimento. Uma mulher de 39 anos fez uma descoberta chocante quando a função de preenchimento automático de seu navegador a redirecionou para o Fetlife, uma rede social canadense voltada para interesses sexuais alternativos, em vez do site Food Network, que ela pretendia acessar.
O incidente revelou um vídeo de 12 segundos em que ela aparecia envolvida em atos íntimos, gravado sem seu conhecimento ou consentimento enquanto estava vendada. “Fiquei tão humilhada. Me senti estúpida, envergonhada, com medo”, disse ela à CBC News. “Eu não concordei em ser filmada assim. Eu não queria ser filmada.”
O vídeo de Natalie ficou online por quatro anos (CBC News/YouTube).
O caso chegou ao Tribunal Provincial de Dartmouth, onde seu ex-parceiro, Conor Dolan, de 43 anos, enfrentou acusações de voyeurismo e distribuição de imagens íntimas sem consentimento. A acusação de voyeurismo foi retirada em troca de uma confissão de culpa pela distribuição do material, e Dolan recebeu, em 6 de janeiro, uma sentença condicional de quatro meses, cumprida em prisão domiciliar.
Durante o julgamento, foi revelado que, embora o rosto da vítima não aparecesse no vídeo, outros elementos identificáveis estavam presentes, como sua voz e o ambiente doméstico onde a gravação foi feita. O vídeo foi publicado no Fetlife duas semanas antes de ser descoberto, em setembro de 2019, e permaneceu acessível por quatro anos, apesar de Dolan ter afirmado inicialmente que o havia excluído.
As tentativas da vítima de remover o conteúdo encontraram resistência. O Fetlife negou seu pedido, alegando que ela não podia se identificar no vídeo e que o material era considerado propriedade de Dolan. O vídeo foi finalmente removido em 28 de janeiro de 2024, após Dolan reativar sua conta cinco meses depois de afirmar tê-la desativado.
Ela fez a descoberta horrível enquanto procurava por receitas culinárias (CBC News/YouTube).
Durante o julgamento, Dolan demonstrou remorso, declarando estar “profundamente arrependido” e admitindo lutar contra um “vício em pornografia/sexo”. O relacionamento terminou em dezembro de 2019, mas as consequências de suas ações digitais persistiram. Em sua declaração ao tribunal, Dolan afirmou que publicou o vídeo na tentativa de atrair outros parceiros e que “não se tratava dela”.
O promotor Paul Niefer explicou que sentenças de prisão geralmente são aplicadas em casos de pornografia de vingança, onde a intenção de causar dano é o principal motivo. O juiz Tim Daley caracterizou o incidente como “um ato de abuso sexual online em um relacionamento íntimo” que resultou em “uma perda massiva de privacidade”.
A declaração emocional da vítima no tribunal destacou o impacto profundo de tais violações: “A ideia de que alguém possa reduzir meu corpo, minha autonomia, minha dignidade, minha humanidade, a algo para o consumo deles sem meu consentimento é insuportável.”
