A Usina Hidrelétrica de Três Gargantas é o projeto hidrelétrico mais ambicioso da China, concluído em 2006 após 17 anos de construção e um investimento de 37 bilhões de dólares. Localizada no Rio Yangtzé, perto da cidade de Yichang, na província de Hubei, essa estrutura monumental transformou tanto a paisagem local quanto, surpreendentemente, a dinâmica rotacional da Terra.
A principal função da usina é a geração de energia, produzindo cerca de 0,54 TWh de eletricidade por dia – o suficiente para atender ao consumo mensal de 5,4 milhões de residências. O governo chinês implementou o projeto para solucionar os constantes problemas de enchentes devastadoras nas terras baixas ao longo do Rio Yangtzé.
No entanto, o impacto social da construção foi significativo, deslocando 1,5 milhão de moradores enquanto as águas submergiam 13 cidades e 140 vilarejos. A recente proposta da China para um projeto hidrelétrico ainda maior no Rio Yarlung Zangbo, com potencial de ser três vezes mais poderoso que Três Gargantas, aumentou as preocupações ambientais.
Desafios ambientais levantados pela NASA
O Observatório da Terra da NASA documentou diversos desafios ambientais associados à usina. Entre eles estão o aumento da atividade sísmica, riscos de deslizamentos de terra, alteração de ecossistemas, acúmulo de poluição e maior probabilidade de doenças transmitidas pela água. A agência também observou mudanças potenciais na salinidade da foz do Rio Yangtzé.
O impacto da usina vai além das questões ambientais regionais, influenciando as características rotacionais da Terra. Cientistas da NASA descobriram que a redistribuição significativa de massa na superfície do planeta pode afetar a inércia rotacional da Terra. O geofísico Dr. Benjamin Fong Chao, do Centro de Voo Espacial Goddard da NASA, calculou que a capacidade de armazenamento de água da usina, de 40 quilômetros cúbicos – equivalente a 38 trilhões de litros – gera efeitos mensuráveis na rotação do planeta.
Esse deslocamento de massa é comparável ao observado durante o terremoto e tsunami no Oceano Índico em 2004, que alcançou 9,1 na escala Richter. Enquanto esse desastre natural reduziu o comprimento do dia terrestre em 2,68 microssegundos, a Usina de Três Gargantas tem o efeito oposto quando opera em sua capacidade máxima. As pesquisas do Dr. Chao indicam que a usina aumenta o comprimento do dia em 0,06 microssegundos e desloca a posição do eixo da Terra em aproximadamente dois centímetros.
Uma interseção entre engenharia e impacto ambiental
A usina representa uma complexa interseção entre a conquista humana em engenharia e o impacto ambiental. Apesar de fornecer benefícios essenciais, como geração de energia e controle de enchentes, ela desencadeou diversas mudanças ambientais e sociais. O impacto na rotação da Terra, embora mínimo, demonstra a escala em que projetos de infraestrutura podem influenciar os sistemas planetários.
Os planos da China para futuros projetos hidrelétricos ainda maiores sugerem que as mudanças induzidas pela humanidade nos sistemas físicos da Terra podem continuar a crescer, exigindo monitoramento científico contínuo e avaliação ambiental.