Cientistas descobrem sonho que pode ser um sinal precoce de demência ‘em quase todos os casos’

por Lucas Rabello
214 visualizações

Um novo distúrbio do sono está ganhando atenção na comunidade médica, à medida que pesquisadores descobrem sua forte conexão com condições neurológicas, como a doença de Parkinson e a demência. O distúrbio, conhecido como transtorno comportamental do sono REM (RBD, na sigla em inglês), afeta mais de 1 milhão de pessoas nos Estados Unidos e aproximadamente 80 milhões em todo o mundo.

O transtorno se manifesta por meio de comportamentos noturnos incomuns, como falar, gritar, rir, xingar e realizar movimentos físicos durante o sonho. O que torna o RBD particularmente relevante é seu papel como um sinal de alerta precoce – cientistas do Mount Sinai descobriram que ele precede a doença de Parkinson ou a demência em quase todos os casos documentados.

“Esse método automatizado poderia ser integrado ao fluxo de trabalho clínico durante a interpretação de exames de sono para melhorar e facilitar o diagnóstico, evitando diagnósticos perdidos”, explica o Dr. Emmanuel During, professor associado de neurologia na Escola de Medicina Mount Sinai, em Nova York.

Uma certa condição do sono pode ser um sinal de demência

Uma certa condição do sono pode ser um sinal de demência (Envato)

O grande desafio está no diagnóstico preciso, já que o RBD pode ser facilmente ignorado ou confundido com outras condições. Muitos pacientes permanecem sem saber de seus sintomas, uma vez que eles ocorrem durante o sono. O transtorno é particularmente preocupante quando os movimentos físicos se tornam violentos, a ponto de causar ferimentos na pessoa ou em seu parceiro(a) de sono.

A explicação científica por trás dessa conexão envolve inflamação no cérebro em áreas responsáveis pela produção de dopamina. Esse mesmo padrão de redução nos níveis de dopamina aparece tanto em pacientes com Parkinson quanto em pessoas com demência, onde as células nervosas responsáveis por produzir essa substância química crucial se deterioram.

Para lidar com os desafios do diagnóstico, pesquisadores estão recorrendo à inteligência artificial. Cientistas nos Estados Unidos desenvolveram um sistema automatizado de aprendizado de máquina baseado em trabalhos anteriores da Universidade Médica de Innsbruck, na Áustria. O sistema analisa testes clínicos de sono usando tecnologia de vídeo-polissonografia, alcançando uma taxa de precisão de 92% no diagnóstico de RBD.

A demência afeta milhões de pessoas no Brasil

A demência afeta milhões de pessoas no Brasil

Além dos distúrbios noturnos, o RBD pode impactar o funcionamento diário. Pacientes frequentemente relatam sentir-se sonolentos ao acordar e apresentam aumento da sonolência ao longo do dia. Esses sintomas aparecem juntamente com outros possíveis indicadores precoces de demência, como dificuldade em aprender novas tarefas, redução da capacidade de concentração, problemas em participar de conversas, identificação equivocada de objetos e respostas emocionais ou medos incomuns.

A equipe de pesquisa sugere que esse método de análise automatizada pode ajudar os profissionais de saúde a tomarem decisões de tratamento mais informadas. Avaliando a gravidade dos movimentos durante o sono, os médicos podem desenvolver estratégias de cuidado personalizadas para cada paciente, possibilitando intervenções mais precoces em casos de condições neurológicas em desenvolvimento.

Com milhões de pessoas afetadas pela demência no Brasil, essa pesquisa representa um passo significativo para compreender a relação entre distúrbios do sono e a progressão de doenças neurológicas. A capacidade de identificar essas condições mais cedo, por meio da análise de padrões de sono, abre novas possibilidades para o monitoramento e o manejo desses desafiadores problemas de saúde.

Lucas Rabello
Lucas Rabello

Fundador do portal Mistérios do Mundo (2011). Escritor de ciência, mas cobrindo uma ampla variedade de assuntos. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.