Em uma demonstração notável da capacidade da engenharia humana, a Barragem das Três Gargantas, na China, conseguiu algo antes associado apenas a desastres naturais: alterou a dinâmica de rotação da Terra. A enorme usina hidrelétrica, localizada a 175 metros acima do nível do mar no rio Yangtzé, a oeste de Wuhan, é a maior estação de energia do mundo e gerou efeitos mensuráveis no movimento do nosso planeta.
A construção do projeto exigiu o deslocamento de 1,5 milhão de residentes chineses e inundou 13 cidades e 140 vilarejos. Apesar de o governo chinês considerar a barragem essencial para o controle de enchentes e geração de energia, cientistas da NASA levantaram preocupações ambientais significativas.
“A escala épica do projeto da barragem é proporcional ao nível de controvérsia que continua a gerar”, afirmou a NASA em seu site Earth Observatory. “Preocupações sobre grandes impactos ambientais, o deslocamento de 1,2 milhão de pessoas e a inundação de 13 cidades, mais de 1.300 vilarejos, locais arqueológicos e depósitos de resíduos perigosos foram levantadas ao longo do planejamento e da implementação.”
A comunidade científica identificou vários riscos ambientais, incluindo aumento da atividade sísmica, deslizamentos de terra, perturbação de ecossistemas, acúmulo de poluição, maior risco de doenças transmitidas pela água e alterações na salinidade do estuário do rio Yangtzé.
Concluída em 2012, a barragem chamou a atenção por seu impacto na rotação da Terra. Cientistas da NASA explicam que redistribuições significativas de massa na Terra podem influenciar a inércia rotacional do planeta. O Dr. Benjamin Fong Chao, geofísico do Centro de Voos Espaciais Goddard da NASA, destacou a escala massiva da barragem, observando sua capacidade de 40 quilômetros cúbicos – equivalente a 38 trilhões de litros de água.
Água sendo liberada da Barragem das Três Gargantas.
Para contextualizar, o Dr. Chao comparou o deslocamento de massa causado pela barragem ao terremoto e tsunami no Oceano Índico em 2004, que registrou 9,1 na escala Richter. Enquanto aquele terremoto diminuiu o comprimento do dia em 2,68 microssegundos, a Barragem das Três Gargantas, quando está em sua capacidade máxima, cria uma pequena resistência à rotação da Terra, aumentando o dia em 0,06 microssegundos.
A barragem e o rio vistos de cima (NASA).
A influência da barragem vai além da medição do tempo – os cálculos do Dr. Chao indicam que ela desloca a posição do pólo da Terra em aproximadamente dois centímetros. Embora essas mudanças possam parecer mínimas, elas destacam a escala sem precedentes das capacidades de engenharia humana. A Barragem das Três Gargantas é um exemplo complexo da interseção entre a engenhosidade humana e o impacto ambiental, levantando questões importantes sobre projetos de infraestrutura em larga escala e suas consequências para os sistemas naturais do planeta.
A NASA continua monitorando os efeitos ambientais da barragem, incluindo sua influência na atividade sísmica regional, nas mudanças nos ecossistemas e nas possíveis implicações para a saúde das populações próximas. O projeto exemplifica o equilíbrio intricado entre o avanço tecnológico e a consideração ambiental no desenvolvimento de infraestrutura moderna.
