Homem que ficou 264 horas sem dormir sofreu efeitos horríveis por anos depois disso

por Lucas Rabello
677 visualizações

Em 1964, um experimento científico notável ocorreu em San Diego, Califórnia, quando dois estudantes do ensino médio embarcaram em um ousado estudo sobre privação de sono. Randy Gardner e Bruce McAllister, sob a supervisão do pesquisador do sono da Universidade de Stanford, Dr. William C. Dement, decidiram quebrar o recorde mundial de tempo que um ser humano ficaria sem dormir voluntariamente, como parte de um projeto de feira de ciências da escola.

O experimento foi focado em Gardner, que tinha 17 anos na época, enquanto McAllister atuava como monitor. A própria experiência de McAllister com a privação de sono mostrou-se desafiadora. “Nós éramos idiotas, sabe, jovens idiotas, e eu fiquei acordado com ele para monitorá-lo”, contou ele à BBC. Após três noites sem dormir, McAllister se viu em um estado alterado, “escrevendo anotações na própria parede”.

A supervisão do experimento foi realizada pelo Dr. Dement e pelo médico da Marinha dos EUA, Tenente-comandante John J. Ross, que documentaram os efeitos progressivos da privação de sono em Gardner. Os impactos começaram a ser notados após apenas 48 horas, com Gardner tendo dificuldade em realizar tarefas simples, como repetir trava-línguas.

No terceiro dia, a condição de Gardner se deteriorou significativamente. Ele apresentou uma série de sintomas preocupantes, incluindo mudanças de humor, dificuldades de concentração, problemas de memória de curto prazo e, mais tarde, paranoia e alucinações. O Dr. Dement observou que atividades físicas ajudavam a mantê-lo acordado: “Ele era fisicamente muito saudável. Então, sempre podíamos colocá-lo em movimento jogando basquete ou boliche, coisas assim. Se ele fechasse os olhos, dormiria imediatamente.”

Randy Gardner ficou mais de 11 dias sem dormir.

Randy Gardner ficou mais de 11 dias sem dormir.

Gardner conseguiu permanecer acordado por impressionantes 264,4 horas, estabelecendo um novo recorde mundial. Quando finalmente se permitiu dormir, descansou por 14 horas seguidas. Ao acordar, relatou sentir-se surpreendentemente normal, sem sinais significativos de sonolência extrema.

No entanto, as consequências de longo prazo desse experimento surgiram mais tarde na vida de Gardner. Ele desenvolveu problemas persistentes de sono, especialmente insônia, que atribuía à experiência de privação de sono. “Eu era horrível de se conviver. Tudo me irritava. Era como uma continuação do que fiz há 50 anos”, explicou Gardner ao programa Morning Edition da NPR.

O experimento social foi supervisionado por pesquisadores.

O experimento social foi supervisionado por pesquisadores.

A experiência levou Gardner a entender a importância fundamental do sono para a saúde e o funcionamento humano. Ele passou a enxergar o sono como um dos “três grandes” elementos essenciais para a vida, ao lado de água e comida. “Você precisa dormir. É tão importante quanto – são os três grandes. Eu chamo de os três grandes. Água, comida, sono – você precisa de todos eles”, afirmou.

Embora o experimento tenha alcançado seu objetivo imediato de quebrar um recorde mundial, ele também demonstrou os efeitos profundos da privação de sono no funcionamento físico e mental humano, tanto a curto quanto a longo prazo.

Lucas Rabello
Lucas Rabello

Fundador do portal Mistérios do Mundo (2011). Escritor de ciência, mas cobrindo uma ampla variedade de assuntos. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.