Uma descoberta revolucionária ocorreu na Nova Zelândia, onde cientistas analisaram um dos mamíferos marinhos mais raros do mundo: a baleia Taoka. Este raro exemplar, um dos apenas seis casos documentados no mundo, proporcionou aos pesquisadores informações sem precedentes sobre essa espécie misteriosa.
A baleia Taoka, conhecida cientificamente como Mesoplodon traversii, foi identificada pela primeira vez em 1874, com base em um modesto conjunto de restos mortais — uma mandíbula inferior e dois dentes coletados na Ilha Pitt, Rēkohu. A confirmação da espécie só foi possível após a descoberta de dois outros esqueletos, e descobertas mais recentes permitiram que cientistas documentassem, pela primeira vez, o padrão de coloração da baleia.
O espécime macho, com cerca de cinco metros de comprimento, encalhou na região de Taieri Mouth, em 4 de julho, e revelou características anatômicas extraordinárias durante a dissecação. Os cientistas descobriram dentes vestigiais na mandíbula superior, uma característica que a maioria das baleias perdeu ao longo da evolução. Ainda mais surpreendente, a análise revelou evidências da história evolutiva da espécie, que já caminhou em terra firme. A baleia possui membros posteriores reduzidos, que os cientistas acreditam terem sido pernas há cerca de 50 milhões de anos. Atualmente, esses membros desempenham uma função reprodutiva, ajudando no impulso durante o acasalamento.
A dissecação também revelou um sistema digestivo incomum, com nove câmaras estomacais. Segundo Anton van Helden, consultor de ciências marinhas, foram encontrados diferentes itens nessas câmaras: “Em alguns desses estômagos, encontramos bicos de lulas e lentes dos olhos de lulas, alguns vermes parasitas e, talvez, outras partes de organismos que ainda não conseguimos identificar.”
Essa pesquisa representa uma colaboração única entre cientistas e comunidades indígenas. Rachel Wesley, da Assembleia Rūnanga Maori do Departamento de Conservação, destacou o caráter inédito dessa parceria. Nadia Wesley-Smith, presidente do Te Rūnanga ō Ōtakou, enfatizou a importância de respeitar a cultura local no processo de pesquisa, afirmando: “É importante garantir que o devido respeito por este taoka seja demonstrado por meio da jornada compartilhada de aprendizado, aplicando o mātauraka Māori enquanto descobrimos mais sobre essa rara espécie.”
A relevância dessa descoberta não pode ser subestimada, como destacou Gabe Davies, gerente de Operações Costeiras de Otago do Departamento de Conservação: “As baleias-de-dentes-de-pá são uma das espécies de mamíferos grandes mais desconhecidas dos tempos modernos. Desde o século XIX, apenas 6 exemplares foram documentados em todo o mundo, e todos, com exceção de um, foram encontrados na Nova Zelândia. Do ponto de vista científico e de conservação, isso é enorme.”
O nome Taoka, que significa “tesouro” na cultura Māori da Ilha Sul, reflete a importância dessa baleia. Seus dentes em formato de pá são uma característica distintiva da espécie. Apesar de nunca terem sido observadas vivas em seu habitat natural, este espécime fornece informações valifosas sobre uma das criaturas mais enigmáticas dos oceanos.