Cães de Chernobyl estão passando por várias mutações

por Lucas Rabello
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O desastre nuclear de Chernobyl criou um laboratório natural inesperado para o estudo da adaptação evolutiva rápida. Pesquisas recentes revelaram mudanças genéticas notáveis em várias espécies que habitam a área, especialmente nos cães que vivem próximos à antiga usina nuclear.

Um estudo mostrou que os cães que vivem mais perto do local do reator desenvolveram marcadores genéticos distintos que os diferenciam de seus semelhantes ao redor do mundo. De acordo com a geneticista Elaine Ostrander, do Instituto Nacional de Pesquisa do Genoma Humano (NIH), “acho que o mais notável sobre o estudo é que identificamos populações de cães vivendo dentro e nas proximidades do reator, e podemos dizer quem são esses cães apenas observando o perfil de DNA deles.”

Esse fenômeno não se limita aos cães. Lobos na região parecem ter desenvolvido mecanismos genéticos que podem protegê-los contra o câncer, enquanto os sapos que vivem na Zona de Exclusão evoluíram para uma coloração mais escura. Cientistas acreditam que o aumento da melanina nesses sapos pode oferecer proteção contra a exposição à radiação.

cães que vivem mais perto do local do reator desenvolveram marcadores genéticos distintos

Cães que vivem mais perto do local do reator desenvolveram marcadores genéticos distintos

Os mecanismos que impulsionam essas mudanças genéticas são complexos e ainda não totalmente compreendidos. Um estudo de 2020 sugere duas possíveis explicações para a evolução induzida pela radiação. A primeira envolve mutações diretas que criam variações genéticas transmitidas de uma geração para a outra. A segunda hipótese está relacionada à pressão seletiva, na qual os indivíduos incapazes de lidar com a exposição à radiação não sobrevivem, deixando apenas aqueles com características vantajosas para se reproduzirem.

Pesquisas sobre pulgas-d’água em lagos da região de Chernobyl fornecem mais pistas sobre esses processos evolutivos. Cientistas descobriram uma maior diversidade genética em populações que habitam lagos mais radioativos, sugerindo que as mutações podem ser a principal força impulsionando as mudanças genéticas nesses organismos. No entanto, os próprios pesquisadores ressaltam que seus achados mostram uma correlação e não uma relação de causa e efeito, e os mesmos processos podem não se aplicar a outras espécies da região.

Os cães de Chernobyl representam uma oportunidade única para estudar a evolução em tempo real. Embora o impacto exato dessas diferenças genéticas na saúde e nas características desses cães ainda seja desconhecido, a rápida adaptação demonstra a incrível capacidade da natureza de responder a desafios ambientais. A pesquisa em andamento na Zona de Exclusão continua a revelar novos insights sobre como as espécies podem evoluir em resposta a mudanças ambientais extremas.

O ecossistema de Chernobyl serve como um laboratório vivo, onde cientistas podem observar e documentar processos evolutivos que geralmente levam muito mais tempo para se manifestar. As modificações genéticas observadas em várias espécies, desde cães até sapos e pulgas-d’água, destacam a complexa interação entre exposição à radiação e adaptação biológica. Essas descobertas contribuem para a nossa compreensão de como os organismos respondem a estressores ambientais severos e podem orientar futuras pesquisas em biologia evolutiva e nos efeitos da radiação.

Lucas Rabello
Lucas Rabello

Fundador do portal Mistérios do Mundo (2011). Escritor de ciência, mas cobrindo uma ampla variedade de assuntos. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.