A fumaça das queimadas tem se tornado um problema cada vez mais preocupante no Brasil, afetando não apenas o meio ambiente, mas também a saúde da população. Em 2024, o cenário é alarmante: cerca de 3,2 milhões de hectares da Amazônia foram consumidos pelo fogo, enquanto no Pantanal, quase 1,9 milhão de hectares – representando 12,5% do território – foram devastados. Esse quadro não se limita apenas às regiões Norte e Centro-Oeste do país; no estado de São Paulo, por exemplo, foram registrados 1.886 focos de calor, o dobro da média histórica para o mês de agosto.
Os efeitos dessa situação são visíveis e impactantes. Em Fortaleza, no Ceará, o céu ganhou uma tonalidade cinza, enquanto nos estados do Sul, moradores ficaram impressionados com o fenômeno do “sol vermelho“. No interior de São Paulo, as consequências foram ainda mais graves: motoristas perderam a visibilidade em diversas rodovias, aulas foram suspensas em algumas cidades e, tragicamente, dois funcionários de uma usina perderam suas vidas ao tentar controlar o fogo em uma área de pastagem.
Efeitos da fumaça das queimadas na saúde
Mas além dos impactos visuais e econômicos, as queimadas representam uma séria ameaça à saúde pública. A exposição à fumaça pode causar uma série de problemas de saúde, tanto diretos quanto indiretos. Entre os efeitos imediatos, destacam-se dores de cabeça, irritação e ardência nos olhos, garganta e nariz, rouquidão, lacrimejamento, tosse seca, dificuldades respiratórias, cansaço e alergias.
Mais preocupante ainda é o fato de que a exposição à fumaça das queimadas pode agravar condições pré-existentes, especialmente doenças cardiovasculares e respiratórias. Pessoas com asma, bronquite, sinusite, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e síndrome respiratória aguda grave (SRAG) estão particularmente em risco. Dados científicos revelam que a exposição ao material particulado de fumaças relacionado a incêndios florestais pode aumentar entre 20% e 30% as hospitalizações por causas cardiorrespiratórias, sendo idosos e crianças as populações mais vulneráveis.
Um grupo que merece atenção especial são as gestantes. Estudos científicos indicam que a exposição ao material particulado presente na fumaça durante a gravidez pode aumentar o risco de parto prematuro. A região Sudeste do Brasil, em particular, apresentou o maior aumento nesse risco, especialmente quando a exposição ocorreu durante os primeiros trimestres da gestação. Essa constatação deve ser motivo de grande preocupação para autoridades de saúde pública, obstetras e formuladores de políticas.
Como se proteger
Diante desse cenário alarmante, é crucial que a população adote medidas de proteção. Em regiões afetadas pelas queimadas, recomenda-se o uso de máscaras com alta capacidade filtrante, como as PFF2 ou N95 Além disso, é aconselhável evitar saídas em ambientes externos atingidos pela fumaça, usar protetor solar e manter-se bem hidratado.
O engenheiro civil Leonardo Cozac, especialista em qualidade do ar interno, sugere algumas medidas adicionais para melhorar a qualidade do ar em ambientes fechados. Entre elas, estão o uso de purificadores de ar HEPA, a instalação de sistemas de ventilação mecânica com filtros, a preferência por ambientes com ar condicionado central e a troca regular do filtro de ar do carro.
O problema das queimadas no Brasil não é apenas uma questão ambiental ou de saúde pública, mas também um desafio econômico e social. A cada ano, cerca de 47 mil brasileiros são hospitalizados devido a problemas relacionados às queimadas, o que representa um enorme custo para o sistema de saúde e uma perda significativa de produtividade.