Orkut Büyükkökten, o criador da famosa rede social Orkut que fez sucesso nos anos 2000, revelou recentemente que está trabalhando em uma nova plataforma. Este anúncio coincide com o vigésimo aniversário do lançamento do Orkut. Büyükkökten relembrou com carinho suas comunidades favoritas do Orkut, dizendo: “Eu acho que as minhas comunidades preferidas do Orkut eram ‘Eu abro a geladeira para pensar’ e ‘Eu odeio segunda-feira’.” Essas comunidades estavam entre muitas que fomentaram conexões únicas e genuínas na plataforma.
Durante sua visita ao Brasil, Büyükkökten deu uma palestra na feira de tecnologia e inovação Rio Innovation Week 2024, no Rio de Janeiro. O evento ocorreu na quarta-feira, 14 de agosto de 2024, onde ele falou sobre o tema “Gerações e Conexões: Impactos das Tecnologias e Mídias Sociais”. Em sua palestra, ele discutiu como os algoritmos mudaram fundamentalmente a maneira como as pessoas interagem nas redes sociais. Em uma entrevista ao TechTudo, ele também compartilhou mais sobre sua próxima plataforma, que visa reviver algumas das características amadas do Orkut.
Uma Nova Plataforma para Felicidade e Conexões Reais
O novo projeto de rede social de Büyükkökten está focado em promover a felicidade e conexões genuínas entre seus usuários. Ainda não está claro se esta será uma plataforma completamente nova ou uma revitalização do orkut.com, mas o engenheiro vem trabalhando diligentemente neste projeto há vários anos. Ele mencionou que o projeto envolveria executivos brasileiros, enfatizando a importância da expertise local no seu desenvolvimento.
Após o encerramento do Hello—uma rede social que Büyükkökten lançou dois anos após o fechamento do Orkut, que operou de 2016 a 2022—ele começou a planejar esta nova plataforma. O objetivo é aprender com as experiências passadas e criar uma nova forma para as pessoas se conectarem online.
“Estamos usando o poder da tecnologia de IA e aprendizado de máquina para otimizar a felicidade, positividade e unir as pessoas. Portanto, a comunidade será uma grande parte dessa experiência,” explicou Büyükkökten. Ele ressaltou que todas as decisões de design e produto são tomadas com o bem-estar dos usuários em mente. Inspirando-se no Orkut, ele revelou que gostava de deixar depoimentos nos perfis dos amigos e era participante ativo de algumas das comunidades mais populares. Segundo ele, algumas dessas funcionalidades podem voltar na nova plataforma, embora ainda não haja uma data prevista para o lançamento.
Conexões Reais Além de Curtidas e Seguidores
Uma das principais preocupações de Büyükkökten para sua nova rede social é a saúde mental dos usuários. Durante sua fala na Rio Innovation Week, ele enfatizou a necessidade de se conectar além das curtidas, engajamento e relações online. “Conexões reais não vêm do número de curtidas, amigos ou seguidores que temos online, mas de nossas comunidades, das conversas que temos e das experiências que compartilhamos no mundo real,” afirmou ele.
Ele argumentou que simplesmente fazer uma análise geracional não é suficiente para entender os impactos da internet e das redes sociais no comportamento e personalidade das pessoas. Em vez disso, Büyükkökten sugere analisar como diferentes tipos de mídia—como rádio, TV e internet—afetaram as relações de crianças, jovens, adultos e idosos ao longo do tempo.
Segundo o engenheiro, o uso de algoritmos e tecnologias avançadas, como aprendizado de máquina e IA, nas redes sociais dificultou a formação de conexões virtuais positivas. “Esses algoritmos otimizam o lucro e o engajamento. E muitas vezes, a negatividade cria mais engajamento, e mais engajamento significa que eles podem mostrar mais publicidade e obter mais lucro,” explicou ele. No entanto, ele acredita que é crucial lembrar as origens das conexões genuínas para criar ferramentas online voltadas para a união, e não para a divisão. “Seu celular não precisa do seu sorriso, não precisa de você e nunca vai te amar de volta. Precisamos encontrar uma maneira para a tecnologia nos unir em vez de nos separar,” concluiu.
Büyükkökten também notou que as redes sociais se transformaram em plataformas de mídia social. Em vez de conhecer novas pessoas e ter experiências genuínas, como faziam no Orkut, os usuários agora seguem influenciadores e celebridades. Ele acredita que essa mudança contribuiu para uma epidemia de solidão. “Em vez de nos encontrarmos cara a cara com nossos amigos, estamos apenas rolando nossos feeds e nos sentindo sozinhos,” disse ele.
Desafios e Oportunidades para Novas Redes Sociais
A plataforma anterior de Büyükkökten, Hello, não foi a única rede social que lutou para competir com gigantes como Instagram, Facebook e TikTok no Brasil. Outros aplicativos, como BeReal e Clubhouse, também entraram no mercado brasileiro, mas falharam em manter relevância a longo prazo. BeReal, lançado em 2020, tinha como objetivo incentivar conexões reais promovendo postagens mais informais e íntimas entre amigos. Apesar de suas boas intenções, o aplicativo rapidamente caiu no esquecimento. “Assim que você tem mais de 10 amigos, isso [a rede social] se transforma em uma competição social onde as pessoas estão tentando superar seus colegas em termos de quão incríveis são suas vidas,” observou Büyükkökten.
De forma similar, o Clubhouse, que chegou ao Brasil em 2021, oferecia conversas em áudio sobre diversos temas de interesse, mas não ganhou popularidade ampla. Segundo Büyükkökten, a plataforma focava mais em influenciar do que em fomentar conexões genuínas.
Embora os brasileiros sejam conhecidos por sua abertura para experimentar novas tecnologias, eles nem sempre são os usuários mais fiéis de novas redes sociais. No entanto, Büyükkökten acredita que ainda há espaço e demanda para uma nova plataforma preencher o vazio deixado pelo Orkut e outras ferramentas. “[Uma nova rede social lança] e então todos começam a usá-la, mas acabam abandonando-a quando não satisfaz sua necessidade de autenticidade de conexão. Agora, mais do que nunca, procuramos experiências que sejam reais, genuínas e que tragam valor. E temos uma geração Z que está muito mais consciente sobre saúde mental e toxicidade e está tentando procurar alternativas melhores,” concluiu.