Em uma revelação esclarecedora, pesquisas recentes destacam um aspecto bastante inquietante da natureza humana: uma parte significativa das pessoas, cerca de 40%, prefere permanecer desinformada sobre as repercussões de suas escolhas. Esta opção pela ignorância abre caminho para comportamentos egoístas sob o disfarce de ingenuidade.
Linh Vu, uma doutoranda que lidera essa pesquisa na Universidade de Amsterdã, ilumina este fenômeno. A vida cotidiana está repleta de exemplos de tal ignorância voluntária. Os consumidores frequentemente fecham os olhos para as origens eticamente duvidosas de suas compras. A motivação por trás da pesquisa de Vu foi medir a extensão e as ramificações dessa ignorância e descobrir as razões que levam as pessoas a isso.
Uma análise meta-analítica rigorosa serviu como a espinha dorsal metodológica desta investigação, sintetizando dados de 22 estudos com um coletivo de 6.531 participantes. Esses estudos, uma mistura de experimentos de laboratório e online, apresentaram aos participantes uma escolha: estar cientes das consequências de suas ações ou deliberadamente evitar essa informação.
Considere um estudo central dessa análise. Os participantes enfrentaram um dilema moral envolvendo distribuição financeira. Eles podiam escolher embolsar US$ 6 para si mesmos e alocar míseros US$ 1 para outra parte ou optar por uma distribuição mais equitativa — US$ 5 cada. A natureza altruísta desta última escolha é evidente.
Em um cenário controlado, onde os participantes estavam totalmente informados sobre os resultados de suas decisões, um animador 74% mostrou altruísmo, escolhendo a divisão mais equitativa. No entanto, a narrativa tomou um rumo diferente quando os participantes foram mantidos no escuro sobre o impacto exato de suas decisões sobre os outros. Nesta condição cega, os participantes sabiam apenas que havia 50% de chance de que sua escolha pudesse afetar adversamente a outra parte.
Apresentados com a oportunidade de descobrir secretamente os resultados de ambas as opções, um marcante 44% optou por permanecer no escuro. Esta escolha de evitar informações permitiu-lhes manter uma fachada de altruísmo enquanto se engajavam em ações voltadas para si mesmos.
As implicações da meta-análise dão um peso substancial a esta descoberta. Shaul Shalvi, colega de Vu e professor de ética comportamental, nota um padrão fascinante: aqueles que buscaram ativamente informações sobre as consequências de suas ações eram ligeiramente mais propensos a agir altruísta em comparação àqueles que receberam informações passivamente. Essa nuance sugere que o altruísmo genuíno é uma escolha consciente em vez de um comportamento padrão.
Shalvi elabora que o comportamento altruísta observado muitas vezes não é puramente desinteressado. Em vez disso, é em parte impulsionado pelas expectativas da sociedade e pelo desejo do indivíduo de manter uma imagem positiva de si mesmo. Já que ser justo muitas vezes exige sacrifícios de tempo, dinheiro e esforço, a ignorância pode parecer um atalho atraente.
Esta pesquisa, publicada no Psychological Bulletin, chama a atenção para a interação complexa entre auto-percepção, normas sociais e o processo de tomada de decisão. Indica que, enquanto muitos estão preparados para fazer a coisa certa quando totalmente informados, suas motivações podem não ser tão altruístas quanto aparentam. A pressão social para conformar-se aos padrões éticos e o desejo inerente de se ver de forma favorável são forças poderosas que moldam o comportamento.
No entanto, a facilidade com que às vezes se escolhe a ignorância revela um potencial para a complacência moral. Ela coloca um desafio à suposição de que as pessoas naturalmente gravitam em direção ao altruísmo quando dada a chance.
Os achados incitam uma reflexão necessária sobre as implicações mais amplas da ignorância voluntária. Pesquisas adicionais são necessárias para entender como esse fenômeno varia em diferentes culturas e ambientes e para desenvolver estratégias para contrariar essa tendência.