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1816: O ano em que o sol desapareceu

Luciana Calogeras

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Já imaginou acordar em um belo dia de verão, se espreguiçar e, ao abrir as janelas de casa para deixar o sol entrar, você percebe que o sol não está mais ali. A paisagem repentinamente se tornou chuvosa e cheia de neve…
O tempo passa e nada muda. O clima permanece simplesmente o mesmo e depois de meses e meses e você não consegue mais ver o sol. Você fica confuso sobre o que está acontecendo. Afinal, se o Sol deixasse de existir, todos nós estaríamos mortos, não é mesmo? Então essa hipótese seria descartada.

Você tenta ouvir o rádio e ninguém consegue entender o que está acontecendo… e muitos locais não estavam preparados para tamanha mudança brusca de temperatura.

Parece uma definição de um cenário pré-apocalíptico e, por incrível que pareça esse cenário já existiu, aqui mesmo na Terra!

Hoje em dia na Indonésia, o Monte Tambora é um vulcão complexo ativo localizado na ilha de Sumbawa. Ele possui 2 850 metros de altitude e… por que estamos falando sobre isso?
Simplesmente porque o Monte Tambora já foi responsável por um evento pra lá de bizarro há 205 anos causando o chamado Ano Sem Verão!

No dia 5 de abril de 1815, depois de passar séculos e séculos engolindo magma das entranhas da Terra, o Monte Tambora simplesmente acordou, para provocar a maior erupção vulcânica já registrada no planeta.

Para se ter ideia, a erupção foi 100 vezes mais poderosa do que a erupção do monte Santa Helena de 1980, que causou o maior deslizamento de terra já registrado.
A erupção do monte Tambora provocou a morte de cerca de dez mil pessoas e, nos dias seguintes, cerca de mais 71 mil continuaram morrendo por conta das cinzas expelidas.
Milhares de pessoas perderam suas casas, que foram completamente esmagadas. A erupção foi tão forte que o próprio vulcão se destruiu e formou uma cadeia de montanhas que hoje possui somente metade do tamanho original.

O oceano se tornou escuro como carvão e, como se não bastasse, o pior chegou: o ano sem verão.

Apesar da erupção ter ocorrido em 1815, os piores efeitos ocorreram em 1816. Os detritos espalhados expeliram enormes quantidades de dióxido de enxofre para além da estratosfera e ao reagir com as moléculas da atmosfera, transformou-se no mortífero ácido sulfúrico.
O ácido sulfúrico funciona como um refletor e impede os raios solares de chegarem à superfície da Terra. Assim, em apenas um dia, a temperatura global já diminuía em 3ºC.

Sendo assim, mundo inteiro experimentou mudanças bizarras: nos Estados Unidos ocorreram duas tempestades de neve que chegaram aos 51 centímetros de altura no mês de junho e milhares de animais morreram congelados nos campos, como ovelhas, pássaros, entre muitos outros.
Na Irlanda, ocorreram chuvas durante 142 dias entre maio e setembro e, do outro lado do oceano a coisa ficou muito pior: na Índia houveram inundações e chuvas severas que resultaram em uma grande epidemia de Cólera e, Europa e na Ásia, os campos foram devastados pela neve e os agricultores foram os mais prejudicados.
Ocorreu a maior crise de fome do século 19: a comida era escassa, os preços subiam e os agricultores tiveram seus campos assaltados. O pior de tudo é que na época os cavalos eram o meio de transporte principal e a aveia, sendo o principal alimento dado aos cavalos, estava totalmente escassa: seu preço aumentou para oito vezes!

Porém, como dizia o ditado, a necessidade é a mãe da invenção: foi nessa época que o alemão Barão Karl von Drais inventou a bicicleta e que Mary Shelley desenvolveu o romance Frankenstein. Diz-se que o poeta britânico George Gordon Byron, 6º Barão Byron, tinha decidido ir passar uma temporada ao lado suíço do Lago Léman junto Mary Shelley, então com 19 anos e também sua irmã.

Como o verão não estava acontecendo, eles permaneceram no hotel, um cenário bucólico e incrivelmente capaz de despertar criatividade para histórias de terror.

Hoje em dia temos uma explicação sobre o que aconteceu: de acordo com Lee Foster, meteorologista do Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA) dos Estados Unidos, a erupção de Tambora foi responsável por agravar uma pequena Idade do Gelo que já havia se iniciado no século XV por conta de outra erupção, que os pesquisadores ainda não conseguiram identificar.

Felizmente, essa idade do Gelo terminou em 1860, mas não se anime: ela pode retornar! Basta apenas um vulcão acordar!

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Luciana é profissional da área de tradução há mais de 15 anos, atuando também como professora de Inglês. Trabalha no Mistérios do Mundo desde 2016 como redatora e roteirista e em horas vagas é pesquisadora curiosa em diversas áreas do conhecimento.

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